As imprensas brasileira e portuguesa com frequência trazem notícias referentes à lei islâmica, que chamam, equivocadamente, xaria ou charia.
Sharia é a grafia inglesa da palavra árabe; charia é a grafia francesa. A grafia portuguesa é xaria, com x – como consta no Dicionário Houaiss (foto a seguir), no Dicionário da Porto Editora (xaria: lei religiosa islâmica, fundada no Alcorão), etc.
(Existe também a variante xariá, menos usada, porém igualmente correta – mas igualmente com “x“.)
Escrever em português “charia” (como se lê em alguns jornais, portais e na Wikipédia) é admitir ignorar as mais básicas regras ortográficas da língua portuguesa – uma das quais é a de que “Nos vocábulos de origem arábica o emprego de x, e não de ch, é de rigor; assim, xeque, e não che(i)k” – regra que constava já no primeiro Formulário Ortográfico da Língua Portuguesa, elaborado em Portugal em 1911.
Que em português se deveria escrever xaria, e não charia nem sharia, era já de conhecimento dos leitores do nosso site, que já sabem que é uma regra ortográfica secular da língua portuguesa que, em português, se usa a letra xis (e não o dígrafo ch) para representar o som chiado, de “sh” (/ʃ/, no alfabeto fonético), em todos os aportuguesamentos vindos de línguas que não usam o nosso alfabeto – como, por exemplo, as palavras de origem árabe, africana, hebraica, persa, tupi e turca.
São exemplos de palavras escritas com x:
- de origem tupi: abacaxi, guaxinim, macaxeira, pixaim, xamã, xará;
- de origem africana: xingar, maxixe (fruta e dança), muxoxo (o barulho feito com a língua para mostrar desaprovação, que soa tsc-tsc), quixima (poço d’água), orixá;
- de origem persa: xá (antigo rei da Pérsia, hoje Irã); xale (manto); xador (veste feminina usada no Irã);
- do turco: paxá;
- do japonês: xogum;
- do chinês: Xangai;
- do hebraico: xibolete;
- e, de origem árabe: almoxarifado; xadrez oxalá; xerife; xarife; xeque; xeique; xarope; e, é claro, xaria:
Já o dígrafo “ch”, em aportuguesamentos, tem outra origem – de que também já tratamos, na postagem “Chota é uma coisa, xota é outra” (clique aqui para lê-la).