O nome bolinha de gude (palavra que, segundo os dicionários, veio de um termo do norte de Portugal, “gode“, cujo sentido seria “pedrinha redonda e lisa“) é hoje entendido no Brasil todo graças ao poder da cidade de São Paulo como polo irradiador, mas muitas outras formas ainda têm uso regional.
Peteca parece ser aquela com maior uso em termos de espaço geográfico, sendo a forma mais popular em toda a região Norte e em grande parte da região Nordeste do Brasil. O interessante é que no centro-sul do Brasil (e, por exportação brasileira, no resto do mundo, inclusive em francês, inglês, etc.), peteca se refere a outro objeto objeto completamente diferente – o brinquedo com penas. Quem está errado nessa história? Ninguém: peteca vem da palavra tupi para “bater” – nome que faz sentido, portanto, para ambos os jogos.
Ainda no Nordeste, o estado de Alagoas tem uma palavra própria – ximbra -, e o Ceará, duas outras: bila (nome também conhecido em Portugal) e cabeçulinha.
As bolas de gude de vidro, tal como as conhecemos hoje, são uma invenção alemã; dentro da própria Alemanha, há muitos diferentes nomes (Murmel, Bucker, Klicker, Knicker), que parecem estar na origem de alguns dos nomes usados no Sul do Brasil. O nome alemão Klicker (pronunciado aproximadamente “clica”) deve ser a fonte dos nomes clica (usado em partes do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina) e quilica (Santa Catarina), enquanto Knicker foi seguramente a fonte da forma canica, usada em espanhol e na Galiza. O alemão Bucker pode ter dado origem à burca dos paranaenses (com um “r” talvez vindo da influência de “buraco”), mais frequentemente chamada burquinha.
(Quase) todos os muitos nomes das bolas de gude:
baleba: Rio de Janeiro (aqui, aqui, aqui)
berlinde: Portugal (Lisboa)
bolita: Rio Grande do Sul (aqui, aqui, aqui)
bila: Ceará e Portugal
biloca: Brasília (aqui, aqui, aqui)
biroca: estado de São Paulo (aqui, aqui, aqui)
birosca (às vezes “bilosca“): Minas Gerais
boleba (às vezes “bolega“): Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro
bola de gude, bolinha de gude: São Paulo (capital) e, por extensão, em todo o Brasil
bugalho: Goiás, interior de SP
bulica: Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro
burca (ou burquinha): Paraná e estado de SP
cabeçulinha (pronunciada cabiçulinha): Ceará
carolo: Portugal (Norte)
clica: Rio Grande do Sul (aqui, aqui, aqui) e Santa Catarina (aqui, aqui, aqui)
fubeca: estado de São Paulo
guelas: Portugal
peca (pronunciada pêca): norte de SC (Barra Velha, Canoinhas, Joinville, Penha, Rio Negrinho, São Francisco do Sul)
peteca: Piauí e Amazonas
pilica ou pinica: Rio Grande do Sul (aqui, aqui, aqui, aqui)
quilica: Santa Catarina (Blumenau, Laurentino, Rio do Sul)
tilica: Santa Catarina (Florianópolis, Gaspar, Itapema, Lages, São João Batista, Tijucas, etc.)
ximbra: Alagoas e Pernambuco